POR MARI MONTEIRO
Conforme prometido no último artigo postado (“Rumos da
educação brasileira”), me empenhei em pesquisar a educação em países, cujos
níveis apresentados na pesquisa estão muito acima do Brasil. Obviamente, que
não caberia, neste momento, uma pesquisa acerca dos CINQUENTA E QUATRO PAÍSES que
estão à nossa frente neste quesito. Logo, apresentarei as condições de ensino
em alguns deles, cujos dados são mais acessíveis. Neste primeiro artigo de uma
série de pesquisas, serão abordadas as questões educacionais em XANGAI:
Primeiro colocado em 2013.
Outro aspecto que deve ficar claro é que, independentemente
da distância geográfica, cronológica e cultural dos países pesquisados, devem
ser considerados que em alguns s aspectos podemos ser IGUAIS ou MELHORES. O que
não pode acontecer é usar tais aspectos como “JUSTIFICATIVAS” para dizer coisas
como: “Nunca teremos uma política educacional de ponta;” “Determinado país é
muito mais ‘antigo’ que o nosso e; por isso, mais evoluído culturalmente”; “Não
podemos contar com um nível tão alto de conscientização por parte dos pais e da
sociedade.” Etc. Justamente por estas e outras razões. É que temos que
TRANSFORMAR O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO.
"Ter peninha da pobre criança que
não tem vontade de estudar é trocar o conforto emocional de hoje pelo futuro do
filho"
É com esta frase que inicia o artigo da Revista Veja de 16/02/2011,
sobre a Educação em Xangai. Tal colocação se refere à posição da FAMÍLIA das
crianças chinesas em relação à educação dos filhos. . O teste do Pisa tornou-se a olimpíada da educação
mundial. Enquanto estava a Finlândia em primeiro lugar, vá lá, quem teme um
mini país que faz celulares? Mas decola um novo Sputnik: o campeão absoluto no
último Pisa é a cidade de Xangai! Enquanto isso, os americanos amargam posições
entre a 15ª e a 31ª.
Ainda sobre a questão familiar, o artigo escrito por Claudio
de Moura Castro menciona que não há, entre os pais orientais uma preocupação
com o estresse dos filhos.
Enquanto 70% das mães ocidentais temem as pressões sobre os filhos, 0% das
chinesas se preocupa com isso. Se os filhos não se saem bem, é vergonha para os
pais. Para evitarem a desonra, gastam dez vezes mais tempo ajudando os filhos
nos deveres - em comparação com as mães ocidentais.
Castro (2011) continua e ilustra com um exemplo muito pertinente. Para os orientais, nada é divertido ou agradável, até que seja totalmente dominado. Portanto, não se pergunta à criança se quer estudar, praticar ou se gosta do que está fazendo. É crença deles, gosto se adquire na prática obsessiva e do sucesso que vem dela. Se malandrava ou tirava notas ruins, Chua era chamada pela mãe de "lixo". A vergonha foi um santo remédio e não deixou cicatrizes na personalidade. Se a nota foi menos que A, só pode ser por vadiagem, pois se toma como certo que o filho pode obter os resultados esperados. Daí as inevitáveis explosões de fúria paternal, sem as preocupações ocidentais de traumatizar as crianças.
Especificamente sobre o
MODELO EDUCACIONAL CHINÊS, Gustavo loschpe
afirma após uma viagem a China, justamente para estudar os moldes educacionais,
que a educação de um país é o reflexo de sua
cultura, sua história e suas aspirações. Não é “exportável”, ainda mais para um
país com diferenças culturais tão grandes como o Brasil. Mas, se não é possível
copiar o modelo todo, HÁ SIM MUITAS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE PODERIAM SER
IMPLEMENTADAS AQUI, depois de um período de teste em algumas cidades ou estados.
Sobre a questão salarial na China, é
interessante saber que a remuneração dos professores é apenas mais um exemplo
de outra macropolítica fundamental, a meritocracia. Todos na educação chinesa
são cobrados e valorizados por seus resultados. Os alunos precisam ir bem no
jun kao para ingressar em uma boa high school, depois precisam ir bem no gao
kao para entrar em uma boa universidade. Precisam de boas notas e bom
comportamento para ocupar as posições de liderança em sua turma. Os professores
precisam esforçar-se, dar boas aulas e obter bom rendimento dos alunos para
receber bonificações e aumentos. Os melhores professores viram diretores. Os
bons diretores das escolas medianas são transferidos para escolas melhores, em
seguida para as escolas-chave. Depois para a administração municipal, então
para a da província, até chegarem ao ministério. Cada pessoa é valorizada de
acordo com o que agrega ao sistema. (In. http://www.revistadigital.com.br/2012/03/o-que-podemos-copiar-da-educacao-chinesa
- acesso em 06/05/2014)
Outro aspecto muito DIFERENTE da nossa visão de qualidade educacional diz respeito ao número de alunos por sala. A China se deu conta de que precisava de bons professores, e em grande quantidade, para dar o seu salto. Mas então viu suas carências: não tinha muitos bons professores nem os mestres capazes de formá-los. Como resolver? Em primeiro lugar, aumentando o número de alunos em sala de aula, para mais de quarenta nas áreas desenvolvidas e para mais de cinquenta no oeste rural. Em décadas passadas, esses números eram ainda maiores. Hoje, a pesquisa acadêmica em educação mostra que a quantidade de alunos em sala de aula não está relacionada com a qualidade do ensino, mas, quando a China montou suas escolas, essa literatura ainda não existia. OS CHINESES ENTENDERAM QUE É MELHOR TER QUARENTA ALUNOS EM CONTATO COM UM BOM PROFESSOR DO QUE VINTE, EM DUAS SALAS, UMA COM UM PROFESSOR BOM E A OUTRA COM UM PROFESSOR RUIM.
A colocação acima faz muito sentido na prática. Aqui mesmo na E. E. Carlos Drummond de Andrade, quando fizemos OFICINAS DE LÍNGUA PORTUGUESA, cheguei a trabalhar com uma média de 44 alunos por sala. Porém, como estavam todos “no mesmo nível de aprendizagem”, não tinha a menor dificuldade em “fazer” com que produzissem com a qualidade desejada.
Esse é um dos aspectos da educação chinesa
que MAIS ME AGRADOU: a abertura ao
exterior. Como a maioria dos países desenvolvidos que deram saltos, A CHINA NÃO
SE CONSTRANGE EM COPIAR AQUILO QUE DEU CERTO EM OUTROS PAÍSES. Os governos
fazem um esforço constante para expor seus funcionários e intelectuais a tudo o
que acontece no mundo, para que eles possam selecionar o melhor e trazê-lo à
China.
Além disso, Gustavo loschpe faz alusão à importância do TRABALHO COLETIVO. Segundo ele, o sistema está organizado em círculos concêntricos, que se “abraçam” e se polinizam constantemente. Os professores têm seus grupos de estudo, as escolas têm seus distritos, os distritos são ajudados pelas províncias, que interagem com o governo nacional. TODOS COMPETEM, MAS TODOS SE AJUDAM. E o fazem porque o cuidado com o aluno é constante, e extrapola a sala de aula. Professores costumam ligar para os pais quando o desempenho de um aluno começa a declinar. E todo ano todas as escolas chinesas recebem a visita de um médico e uma enfermeira que farão exame básico de saúde (incluindo de audição e visão) em seus alunos. Quando se realizou o mesmo exame na cidade de São Paulo, constatou-se que mais da metade dos alunos tinha problemas de visão, audição, fala sobrepeso e desnutrição que atrapalhavam seu desempenho educacional. Imagine quantos milhões de crianças no país todo não têm seu desempenho acadêmico dificultado por conviver com problemas simples de resolver, como de visão e audição.
Agora, PASMEM! Porque até
Gustavo loschpe se admirou. Quando todos os
esforços fracassam e uma escola continua não indo bem, ela passa por um
processo em que o governo faz uma licitação pública, pedindo às escolas de alto
desempenho que elaborem um plano para melhorar o desempenho da escola ruim. O
melhor plano é selecionado. A escola top então assina um contrato com a escola
ruim, no qual basicamente assume a responsabilidade por sua administração por
um período de dois anos. Durante esse tempo, um alto funcionário da escola boa
– normalmente o vice-diretor – se desloca para a escola ruim. na companhia de
sete ou oito de seus melhores professores, e eles ficam lá pelo menos dois dias
por semana, em tempo integral. O governo distrital dá RECURSOS ADICIONAIS à escola boa para que ela possa contratar
profissionais que supram a carência causada por aqueles que saíram. Se a escola
ruim melhorar depois desses dois anos. a escola boa recebe um prêmio em
dinheiro, que pode ser gasto em melhorias na escola. O autor mor da ideia foi
Zhang Minxuan, um dos grandes pensadores da educação chinesa.
“Aí estão o pragmatismo, a
meritocracia, o coletivismo, o gradualismo e a abertura ao exterior em ação. Aí
está o melhor sistema educacional do mundo.” (Gustavo loschpe - In. Op. Cit.).
Desculpem-me o radicalismo:
mas após tantas pesquisas, entendo que não se trata de, pacientemente, entender
que a educação é um processo. ISSO NÓS JÁ SABEMOS FAZ TEMPO! A meu ver. Trata-se
de virar o processo DO AVESSO! Trata-se de revirar a questão da cultura das aparências pelo avesso. Trata-se
de NOS VIRARMOS DO AVESSO: Quem sabe, desprender tudo e reaprender tudo, com
outros olhares para a EDUCAÇÃO e para as PESSOAS a serem educadas? E, só para
constar, não me deparei ao menos neste breve e humilde estudo, com nenhum tipo
de CLASSIFICAÇÃO DA APRENDIZAGEM (se é que posso chamar assim): pré-silábico;
silábico sem valor; silábico com valor... Níveis 1,2 ou 3... Ou coisa que o
valha. Assim, por que não nos ABRIRMOS
PARA O MUNDO e, num atitude de COMPLETA HUMILDADE, procurar o que dá certo em
outros cantos e COPIAR?
Um comentário:
Ótima postagem Mari. Artigo jornalístico mesmo. As imagens falam muito também e ajudam na transmissão da mensagem. Como (sempre) estudante, estou usando algumas dessas informações nas minhas tarefas. O blog está com "cara de gente grande". Abraço
Postar um comentário