terça-feira, 16 de dezembro de 2014

RELATÓRIO SALAMANCA + 20 - ENCERRAMENTO

POR MARI MONTEIRO

PROJETO SALAMANCA + 20
RELATÓRIO SOBRE O QUINTO ENCONTRO – HTPC de 27/10/2014


Diante do histórico de inclusão que a E.E Carlos Drummond de Andrade possui histórico e a partir da análise dos últimos quatro encontros realizados para o estudo e para a Discussão acerca do Projeto Salamanca + 20, neste quinto e último encontro, foi proposto ao grupo que além de mencionar a necessária preparação para atuar em sala de aula de modo a  atender, da melhor forma possível,  CADA um de seus alunos, considerando suas características, decidimos também elaborar um “fechamento” dos estudos realizados, envolvendo todos os aspectos até e então estudados.

Diante disso, seguem os procedimentos inerentes a este último encontro, seguidos das respostas coletivas dos grupos e da PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS DA EJA.  Alguns dias antes do encontro, os participantes receberam as seguintes orientações:


► A respeito dos encontros realizados sobre o Projeto Salamanca + 20 e a fim de concluirmos o Projeto realizado pela Equipe de Educadores da E. E. Carlos Drummond de Andrade, solicitamos que, por gentileza, desenvolva as DUAS questões abaixo. Observamos que esta folha deve ser entregue à Gestão e/ou Coordenação até dia 23/10 (quinta – feira).

Atenciosamente,

Muito obrigada.


1 – Faça uma lista de ações que devem ser efetivadas para que a inclusão, de fato, ocorra:

2 – Elabore uma pequena avaliação sobre os encontros realizados:


Tais questões foram entregues no dia do último encontro, o que facilitou a discussão devido ao prévio conhecimento da temática abordada. A partir das respostas obtidas (relatadas mais à frente), o encontro teve início com os agradecimentos necessários e com um trecho do filme “INTOCÁVEIS”, cujo enredo aborda as crises existenciais de uma pessoa portadora de deficiência e que necessita de cuidados em período integral; a sensibilidade inerente ao “cuidador” e a relação que se estabelece entre ambos. O trecho do filme encontra-se disponível no link abaixo:




Chamamos a atenção dos participantes para que, durante a cena apresentada, prestassem atenção ao olhar do personagem Philippe (tetraplégico) em relação aos movimentos do personagem Driss (cuidador), que dançou em sua frente. A cena trouxe muita sensibilidade à discussão, já que o grupo concluiu que, apesar de privado de movimentos do pescoço para baixo, Philippe olhava para Driss com afeto e com ternura, além de sorrir com os acontecimentos da cena.  Isso é bastante interessante; sobretudo, porque o que se esperava era que, ao ver Driss dançando e movimentando todas as partes de seu corpo, Philippe se entristece ou por se lembrar de sua condição anterior ao acidente ou por ter ciência de que nunca poderia fazer o mesmo.
Em seguida, conhecemos a menina Qian. Em 21 de outubro de 2000, quando tinha apenas três anos, a menina chinesa Qian Hongyan perdeu as duas pernas num acidente de carro. A família Hongyan não tinha dinheiro suficiente para conseguir-lhe equipamento ortopédico de alta tecnologia para ajudá-la a locomover-se; assim seu pai deu a ela uma bola de basquete improvisando uma proteção ao seu corpo.


Mesmo com toda essa dificuldade ela era capaz de ir de sua casa até a escola literalmente saltando com a bola de basquetebol envolvendo uma armação de madeira acoplada ao seu corpo. Cinco anos mais tarde, em maio de 2008, especialistas do Centro de Pesquisas de Reabilitação Ortopédica da China, na capital Beijing, conseguiram finalizar um projeto dando-lhe pernas protéticas especialmente criadas para sua situação.  ( Qian, usando sua prótese provisória construída pelo pai.)

Este assunto nos serviu de base para discutir a questão da aceitação; do envolvimento da família e da persistência da menina Qian e de todos os envolvidos. Concluímos que, a partir da aceitação por parte da família, toda forma de deficiência, pode se transformar num ponto de partida para aspectos importantes como: adaptação; superação; aprimoramento de acessos e melhoria das condições de vida da pessoa portadora de deficiência.

            A questão da inclusão social foi analisada, através de um infográfico, no sentido de compreender o crescimento da procura das famílias pela educação escolar em detrimento de escolas especiais. O que denota, no mínimo, uma demonstração de confiança, por parte da família, no trabalho de inclusão realizado junto à Escola Regular.
Qian com sua prótese desenvolvida por especialistas.




Além disso, foram apresentadas ao grupo as práticas pedagógicas, esportivas e sociais envolvendo a aluna de Ensino médio Mylena Cordeiro, Campeã Brasileira de Tênis de Mesa. Ela está cursando o Ensino Médio e divide seu tempo entre os estudos e os treinos. A conversa girou em torno da força de vontade da aluna e da dedicação e do apoio recebido da família, que nunca mediu esforços para que ela alcançasse seus objetivos.


Mylena e a Turma 2013 – 1º ano Médio, após retornar de um Campeonato na Argentina


Foi solicitada a participação de alguns alunos da EJA (Educação de Jovens e de Adultos) no sentido de opinar tanto sobre a inclusão social, como a inclusão escolar. Muitos deles discutiram em grupos e, depois, entregaram suas impressões por escritos. As mesmas possuem muitos pontos em comum com os registros feitos individualmente. Assim, seguem alguns fragmentos das reflexões por eles elaboradas:

“Acho que a inclusão social teve um grande avanço nestes últimos anos, principalmente para os menos favorecidos economicamente. Embora, acreditemos que deva haver ainda muitas mudanças. Já a inclusão escolar existe para dar chance e para mudar a vida das pessoas que não puderam estudar no tempo certo; ou seja, das pessoas que pararam de estudar porque tinham que trabalhar. Todos, independentemente de suas condições físicas e sociais, devem ter oportunidades iguais de vencer na vida.”

“INCLUSÃO SOCIAL: as pessoas das classes mais baixas não têm condições e nem oportunidades para estudar apenas. A maioria precisa trabalhar e muitos param de estudar e só voltam depois dos 18 anos. Porém, apenas voltar a estudar não é o bastante, porque muitos não conseguem prosseguir os estudos e fazer uma faculdade e conseguir bons empregos para serem mais bem aceitos socialmente”.

“INCLUSÃO ESCOLAR: Podemos dizer que alguma melhoria aconteceu nas escolas para atender as pessoas com deficiência; porém, ainda seriam necessárias ações como: reformas e adaptações em escolas antigas; banheiros que atendam às necessidades das pessoas com deficiência; quadras poliesportivas e mais espaços para atender a TODOS; videotecas; brinquedotecas; laboratórios etc.”.

“A inclusão social apresentou melhoras com o tempo. Um exemplo são os programas de bolsa família; bolsa escola; minha casa, minha vida etc. Estes programas deram maiores oportunidades a pessoas que antes não tinham. Quanto aos projetos voltados para a inclusão escolar, podemos dizer que o acesso às faculdades através do ENEM (Exame Nacional do Ensino médio) e o SISU (Sistema de Seleção unificada) ajudam muito, pois hoje muito mais pessoas conseguem entrar para a faculdade.”

Algumas considerações: a maioria dos alunos entendeu a “inclusão social” de modo um tanto restrito, associando-a aos programas de bolsas. Isso é, por um lado, curioso porque eles pensaram somente na questão econômica: ou seja, a inclusão – segundo a maioria – não está  associada às pessoas com deficiência. O mesmo ocorreu quando escreveram sobre a inclusão escolar. Foram enfocadas as questões do acesso a outros níveis educacionais através de programas governamentais. Uma possibilidade de interpretação acerca destes depoimentos é que a preocupação maior deve ser com a “CIDADANIA PLENAMENTE EXERCIDA”, independentemente se a pessoa é ou não portadora de algum tipo de deficiência.

Quanto à opinião dos educadores sobre os aspectos inerentes a um melhor atendimento aos alunos, considerando a individualidade dos mesmos, obtivemos os seguintes registros:

Acreditamos muito num projeto de formação específico em Educação Inclusiva dentro do Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC’s). Seria um ponto de partida para a prática inclusiva se concretizar, de fato, nas salas de aula. 

A formação estaria estruturada a partir de três eixos:
·         Conceitos: Diversidade e Cultura Inclusiva;
·         Legislação;
·         Projetos Pedagógicos;

A ideia principal é compartilhar as experiências e reflexões no curso de “Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva” com todos os professores da unidade escolar tendo como referências principais a bibliografia que subsidiou a especialização.

As estratégias de ação dessa intervenção:

· Proporcionar ações de apoio pedagógico tais como: palestras em parcerias com instituições e especialistas;

Outros aspectos levantados pelo grupo são:
- Maior participação da família, a fim de que existam contatos periódicos (família-professor) a fim de dialogar sobre: diagnóstico; histórico; necessidades; expectativas e avanços relacionados ao aluno.
- Encontros regulares com profissionais especializados nas mais variadas áreas (fonoaudiologia; psicologia; psicopedagogia etc.) a fim de trocar informações e traçar metas de ação mais eficientes, objetivando melhor auxiliar no desenvolvimento individual e social do aluno.
- Profissionais especializados, em polos próximos à escola, para dar suporte aos ALUNOS; FAMILIARES e PROFESSORES.
- Promoção de ações conjuntas: família e escola, a fim de promover e de elevar o nível de conscientização social acerca da inclusão de um modo geral.
- Sala com um número reduzido de alunos.
- Ter sempre um olhar atento às necessidades e às carências do outro.
- Conhecer bem a realidade da clientela escolar e considerá-la desde o momento do Planejamento Anual.
- Contratação de profissionais como cuidadores, intérpretes etc em número suficiente para atender de modo satisfatório às necessidades dos educandos.
- Acesso dos educadores a uma espécie de “ficha investigativa” acerca do diagnóstico e das necessidades do aluno, para que seja possível planejar ações mais específicas eficazes no sentido da inclusão.
- Repensar e planejar, de modo criterioso e de acordo as diferentes necessidades dos alunos, o tempo de permanência dos mesmos na escola.

Foi solicitado ao grupo que elaborasse também uma pequena avaliação sobre os encontros realizados. Os pareceres foram os seguintes:
Apesar de terem sido poucos e curtos, os encontros se deram de forma dinâmica, propondo reflexões importantes sobre perfil e postura profissionais e a relação do docente com a educação inclusiva abordada de forma atual.
Sempre houve espaços para debates e exposição de ideias. Acreditamos que os estudos acercado Projeto Salamanca + 20 colaborou muito no processo de formação continuada do professor não apenas no que se refere à inclusão social e escolar; mas sobre o processo educativo como um todo.

Além disso, entendemos que é sempre profícuo e oportuno revisitar assuntos que, muitas vezes, deixamos de lado; pois é possível discutir com outras pessoas e confrontar ideias. Isso nos possibilita entender e procurar qualificar nossas práticas; bem como ter acesso a novos estudos, novas visões e proceder a outros encaminhamentos. Através de encontros como estes, é possível traçar metas coletivas; pois é só desta forma (pensando e agindo coletivamente) que as mudanças podem ocorrer. Por isso, necessitamos de mais encontros desse tipo.

Quanto ao material utilizado, os textos e os vídeos selecionados foram de excelente qualidade; as explicações foram pertinentes às temáticas e colocadas de maneira muito agradável e esclarecedora. Enfim, foi realizada uma ação reflexiva, onde todos tiveram a oportunidade de debater e interagir de modo a ampliar significativamente o conhecimento sobre a Educação Inclusiva.

Ao final do encontro, foi exibido um vídeo com o poema “ALMAS PERFUMADAS” (de Carlos Drummond de Andrade):




Na saída, os participantes receberam um texto para reflexão.

OS PARADOXOS DO TEMPO (Por George Carlim)



O paradoxo do nosso período na história é que temos

prédios maiores,
Mas temperamentos mais curtos;
Estradas mais largas,
Mas pensamentos mais estreitos.
Gastamos mais

E temos menos;

Compramos mais
E aproveitamos menos.

Nossas casas são maiores e nossas famílias menores,
Temos mais conveniências, porém menos tempo;
Temos mais estudo e menos bom senso;
Mais conhecimentos e menos capacidade de julgamento.

Mais especialistas e mais problemas,
Mais remédios e menos saúde.
Bebemos demais, fumamos demais, gastamos demais,
Rimos de menos, dirigimos com demasiada velocidade.

Perdemos com facilidade a paciência, dormimos muito tarde,
Levantamos com o corpo quebrado, lemos pouco,
assistimos TV em demasia e rezamos raramente.

Multiplicamos as nossas posses, mas reduzimos o seu valor.
Falamos demais, amamos de menos e odiamos muito.
Aprendemos como ganhar a vida, mas não como viver.
Fomos à Lua e voltamos, mas temos dificuldade em atravessar a rua,para falar com o nosso novo vizinho.


Conquistamos o espaço exterior, mas não o interior.

Fizemos coisas maiores, mas nem sempre melhores.
Às vezes limpamos o ar, mas poluímos as almas.
Conquistamos o átomo, mas não os nossos preconceitos.

Escrevemos mais e aprendemos menos;
Planejamos mais e conseguimos menos;
Aprendemos a correr, mas não a esperar.



Construímos cada vez mais computadores, para armazenar

mais informações e produzir mais cópias,


Mas nos comunicamos cada vez menos.
Estes são os tempos do "fast food" e da digestão lenta;



De homens grandes, com personalidades mesquinhas;

De lucros enormes e relacionamentos pequenos.
Estes são os dias de dois empregos e mais divórcios;
Casas mais bonitas e lares desfeitos.
Estes são os dias de viagens rápidas, fraldas descartáveis, moralidade abandonada, encontros por uma noite, 

obesidade disseminada e pílulas para tudo, da alegria

à calma e até à morte.

É um tempo onde há muito nas vitrines e pouco no depósito.
Um tempo onde a tecnologia permite que você leia isto e
escolha o que fazer:
Dividir este sentimento ou apenas clicar em DELETE.

Lembre-se, diga uma palavra boa para aquele que lhe olha com medo. Porque aquele pequenino crescerá em breve e o abandonará.
Lembre-se, abrace com carinho quem estiver ao seu lado,
Porque este é o único tesouro que você pode oferecer, sem lhe custar nada.
Lembre-se de dar as mãos e aproveitar o instante,
Eis que, algum dia, aquela pessoa não estará ao seu lado.
Dê um tempo ao Amor, dê um tempo às palavras, dê um tempo e divida os preciosos pensamentos da sua mente.

Primavera, 2014

► Seguem anexos os registros de alguns momentos que marcaram este nosso último encontro, juntamente com os sinceros agradecimentos da Equipe Gestora da E. E. Carlos Drummond de Andrade:



















                            








































 “A esc
A escola identifica as diferenças dos alunos perante o processo educativo, busca a participação e o progresso de todos, e para isso acontecer é necessárias novas práticas pedagógicas, essas mudanças necessitam do desenvolvimento de novos conceitos, assim como a efetivação de práticas pedagógicas e educacionais ajustados com a educação inclusiva. O primeiro passo quando se quer uma escola inclusiva é discutir o Projeto Político Pedagógico da escola que é a chave para desenvolver um plano de trabalho democrático de forma que o coletivo faz suas escolhas para acontecer realmente a inclusão.  Quando falamos em coletivo se inclui a presença da família na escola, pois é de extrema importância a relação família-escola, principalmente quando se fala em educação inclusiva, pois não tem como acompanhar um aluno sem a parceria com a família, a escola necessita de informações desse aluno para ter um acompanhamento mais abrangente.”



















E, ao final de cinco encontros, fica o aprendizado; a clareza de que são necessários muitos empenhos e novas ações para concretizar mudanças e fica; sobretudo, a certeza de que; embora não alcancemos o ideal de Educação Inclusiva, agora, sabemos um pouco mais sobre o assunto e sobre as especificidades inerentes à nossa realidade. E fica o mais importante de tudo: NUNCA CONTINUAMOS OS MESMOS, QUANDO ACEITAMOS O “NOVO”; QUANDO, MESMO DISCORDANDO, OUVIMOS O PONTO DE VISTA DO OUTRO. Diante disso, resta-nos agradecer a TODOS os participantes e, colocar em prática todas as sugestões aqui colocadas e reivindicar (SEMPRE) os direitos que nos são negados.

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