POR MARI MONTEIRO
“Nossas teorias sociológicas, nossa filosofia política, nossa
economia e nossas doutrinas educacionais derivam-se de uma tradição
ininterrupta de grandes pensadores e exemplos práticos desde a época de
Platão... até o final do século passado. Toda essa tradição está dominada pela
premissa de que cada geração vive substancialmente em meio às condições que
governaram as vidas de seus progenitores e que serão transmitidas para moldar
com igual força as vidas de seus filhos. Estamos vivendo no primeiro período da
história humana para qual esta suposição é falsa.” (Alfred North Whitehead – Em
“The Adventure Of Ideas”).
A afirmação de Whitehead é muito oportuna para iniciar este
artigo, porque fala sobre uma mudança necessária de postura na educação.
Segundo ele, não é mais possível pautar e conduzir nossas ações tal como nas
gerações passadas. O que é diferente de desvalorizar a história; ao contrário,
valorizar os conhecimentos históricos é fundamental. A forma de fazê-lo é que precisa ser modificada.
Há algum tempo, percebi que os interesses de nossos alunos,
mudaram drasticamente. O que ocorreu basicamente por conta do avanço
tecnológico e da ampliação da facilidade de acesso à internet. Diante disso,
tornou-se urgente repensar nossa postura. Sobretudo, porque não podemos mais
imaginar e, muito menos tratar, nossos alunos da mesma forma como fomos
tratados. SEUS INTERESSES SÃO OUTROS.
Desde então, tenho empreendido esforços no sentido de
entender a nova relação que deve ser estabelecida para que o processo de ensino
e aprendizagem não diminua ainda mais sua QUALIDADE e seu SIGNIFICADO. A partir de então, realizei diversas leituras e estudos a fim de elaborar o TCC (Trabalho
de Conclusão de Curso) sobre “A importância das narrativas digitais no Ensino
Médio”. Inevitavelmente, a pesquisa se estendeu e alcançou patamares
inesperados; mas, muito oportunos. Constatei, por exemplo, que, com o avanço tecnológico e com o
acesso cada vez mais fácil à internet, aumentou consideravelmente a DISTÂNCIA
ENTRE O ALUNO E O PROFESSOR não apenas no Ensino médio, mas em todos os níveis
de ensino, obviamente em escalas diferenciadas.
Um dos primeiros aspectos constatados foi a RESISTÊNCIA DA
MAIORIA DOS PROFESSORES no que se refere às ferramentas disponibilizadas na
internet. Em segundo lugar, e em
decorrência do primeiro aspecto, constatei a questão comportamental, tanto do
aluno como do docente. Aspecto este que me chamou muito a atenção e; por isso,
independentemente do TCC, decidi realizar uma pesquisa mais profunda.
A respeito da resistência dos professores, confesso não ter
ficado surpresa. Sou educadora, convivo com educadores e com alunos e sei da
reação de ambos no que se refere à internet. Enquanto para os alunos o mundo
virtual é um ambiente extremamente familiar; para a maioria de nós não é. É
exatamente desta constatação que decorre o segundo aspecto: A REPRESENTATIVA DIFERENÇA
COMPORTAMENTAL ENTRE PROFESSORES E ALUNOS, que cria um “abismo” (até mesmo em
termos de linguagem) entre alunos e professores, fato este suficiente para
desencadear uma série de CONFLITOS EM SALA DE AULA.
Constatações à parte, o TCC sobre narrativas digitais foi
aprovado (com média 10) e minha vontade de continuar as pesquisas e de
“transformar”, paulatinamente, minha prática pedagógica só fizeram aumentar. E,
por minha conta e risco, comecei a colocar algumas ações em prática. Isso fez
muito bem para mim e para meus alunos. Nossas motivações foram renovadas.
Quando digo que desenvolvi algumas ações em sala de aula, confesso que NÃO FAÇO
ISSO PENSANDO EXCLUSIVAMENTE PENSANDO NO ALUNO; penso em mim também. PRECISO
SENTIR PRAZER AO ENSINAR... O professor precisa e merece trabalhar feliz (como
diz a Professora Vera Lovato) e eu concordo plenamente!
Sendo o diálogo, em minha opinião, uma das maneiras mais
eficaz de aproximar professor, aluno e conhecimento, decidi que também
aprenderia mais com meus alunos se eu “fizesse parte do mundo deles”. Entenda,
por gentileza, este “fazer parte” como uma espécie de oportunidade de
conhecê-los melhor virtualmente e de PERMITIR que eles também me conheçam
melhor. Fiz isso aceitando os convites dos alunos e adicionando-os ao Facebook.
Tenho o mesmo perfil na rede desde 2009 e sempre tive alunos como AMIGOS. Observe
que, no Face, não há a opção “ADICIONAR ALUNO”, mas sim “ADICIONAR AMIGO”. Este
detalhe que, a princípio, parece simples faz toda a diferença na RELAÇÃO
estabelecida no ambiente escolar. Um perfil diz muito sobre o “seu
proprietário”: através do meu perfil, meus alunos conhecem minha família (e eu a
deles); eles sabem das minhas preferências culturais em relação à música; à
leitura; ao cinema; ao esporte etc. (e eu conheço as deles). Além disso, há a
evidente questão de que o perfil diz muito do que eu sou através das minhas
expressões escritas; dos meus posts etc. Estas informações jamais seriam
COMPARTILHADAS no “MUNDO REAL”; pois entre uma aula e outra não temos tempo
para isso. Contudo, esta atitude é muito comum e erroneamente confundida com
EXPOSIÇÃO DO PROFESSOR em relação aos seus alunos.
Minhas pesquisas e minha prática pedagógica estavam
exatamente neste ponto quando, para minha surpresa, a gestora Maria Helena da
E.E. Carlos Drummond de Andrade me fez um convite: conversar com os
professores, no PLANEJAMENTO 2014, sobre esta necessidade de (RE) APROXIMAÇÃO
dos professores e alunos, usando o BLOG CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (blog este
que administro em conjunto com a gestão há quase um ano), no qual publico,
basicamente, RELATOS DE EXPERIÊNCIAS; EVENTOS REALIZADOS PELA ESCOLA;
DESENVOLVIMENTO DOS PROJETOS EXISTENTES E TEXTOS DE FORMAÇÃO PARA PROFESSORES. E,
consequentemente, sobre o USO DAS REDES SOCIAIS e a Educação, lembrando que a
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO mantém uma página no Facebook. E, não raramente, uso o
Face e os e-mails para divulgar os novos artigos. Adoro este trabalho! No
início, confesso, fiquei insegura: como será a receptividade em relação ao
tema? Contudo, Maria Helena é uma pessoa “abusada”. Aceita os
desafios propostos e, com argumentos e encorajamento de sobra, me forneceu a
CONFIANÇA e o respaldo de que eu necessitava. Assim, nasceu a conversa em torno
do tema: “A POSTURA DOCENTE EM RELAÇÃO AOS EDUCANDOS NASCIDOS NA ERA DIGITAL.”
Diante deste compromisso, me dispus a planejar a ação através de fundamentação
teórica (Usei, basicamente Zigmunt Baumman e John Palfrey & Urs Gasser) e da
seleção de imagens relacionadas ao tema. Meu objetivo primeiro era,
humildemente, mas muito bem fundamentada em meus estudos, e com muita HUMILDADE
INTELECTUAL (expressão esta, aliás, muito usada pela Gestora Helena) “minar” as
eventuais resistências ao tema. A primeira sequência de argumentos escolhidos
para isso foi pautada nos seguintes aspectos: demonstração do acesso ao blog;
do “pico” de acessos (e que não eram propriamente advindos do corpo docente);
da necessidade de se tornar membro do blog da escola em que trabalha e de tornar
visíveis as atividades docentes realizadas em sala de aula; assim como, ler os
artigos publicados e INTERAGIR com os mesmo através dos comentários.
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GESTÃO E PARTE DO GRUPO DE PROFESSORES DO PERÍODO NOTURNO |
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APRESENTAÇÃO E TUTORIAL DO BLOG DRUMMOND |
Em seguida, me vali de uma sequência de slides que foram das
“desvantagens” da internet e das redes sociais até a NECESSIDADE DE BUSCAR O
EQUILÍBRIO ENTRE O MUNDO VIRTUAL E O MUNDO REAL. Isso para nos convencer de que
nossos alunos, NASCIDOS NA ERA DIGITAL, não conhecem outra realidade, uma
realidade que foi a nossa, mas que NÃO EXISTE MAIS e, provavelmente por isso
mesmo, eles não reconhecem o valor de nossas aulas (tal como sempre foram) como
deveriam. Isso porque seus INTERESSES divergem cada vez mais dos nossos. Em
contrapartida, a nós educadores, NASCIDOS NA ERA ANALÓGICA e, portanto, tendo
vivenciado a transição dos estreitos laços de afeto para as relações virtuais,
cabe a tarefa de trabalhar para que o EQUILÍBRIO SE ESTABELEÇA e para que AS
FERRAMENTAS DA INTERNET SEJAM USADAS A NOSSO FAVOR e não como “inimigas” que
afetam o aprendizado, que não nos deixa trabalhar. Esta tarefa também nos cabe
porque temos, supostamente, MAIS MATURIDADE E MAIS DISCERNIMENTO que nossos alunos.
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Equipe escolar do período diurno. |
Enfim, o artigo ficaria muito extenso caso eu argumentasse
sobre cada um dos slides e transcrevesse AS VALIOSAS CONTRIBUIÇÕES DOS
PARTICIPANTES (do período diurno e noturno). Fato é que os dois encontros foram
ótimos. As questões colocadas foram muito bem entendidas e discutidas. Sou
muito grata à Gestão pelo convite e pela confiança depositada e aos colegas de
profissão que tão bem me receberam, proporcionando uma TROCA SALUTAR de
informações e de conhecimentos. Como brinquei na discussão com os colegar do
noturno: “ALCANCEI MEU OBJETIVO: PLANTEI A ‘DISCÓRDIA’, AGORA É AGUARDAR O
RESULTADO DAS REFLEXÕES.” Mesmo porque, apesar de ter dito isso num contexto em
que estávamos conversando descontraidamente, NÃO HÁ COMO NEGAR, OS NOSSOS
ALUNOS NASCERAM NA ERA DIGITAL e, de certa forma, temos muito que aprender com
eles. Desconheço, na história da educação, época mais propícia e rica para
TRANSFORMAR INFORMAÇÃO EM CONHECIMENTO. Assim como não dá para negar que o
docente não é mais o “DETENTOR DO SABER” e, muito menos, o “TRANSMISSOR DE
INFORMAÇÕES”; pois o GOOGLE executa esta tarefa com muita eficiência! Outro
aspecto que preciso mencionar é que QUALQUER RESQUÍCIO DE INSEGURANÇA DE MINHA
PARTE SE FOI... O que ficou não foi uma certeza, isso não seria bom; foi um
desejo enorme de RECONSTRUIR SEMPRE MINHA PRÁTICA DOCENTE; DE, AO INVÉS DE SER
“ARRASTADA” PELA TECNOLOGIA, APRIMORAR MEUS CONHECIMNTOS SOBRE ELA E SEGUI-LA
POR LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE, COLOCANDO A MEU SERVIÇO E NÃO O CONTRÁRIO...
Seguem mais alguns registros deste encontro especial:
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A prosa foi ótima! |
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Período noturno. |
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Me senti lisonjada com a atenção e com o acolhimento por parte do grupo. |
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Intervalo... |
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Para finalizar, um delicioso almoço (e também teve jantar!!! ) oferecido pela Gestão. A, propósito, parabéns às meninas da cozinha.
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2 comentários:
Adorei o artigo você realmente escreveu com propriedade e maestria de quem está engajada na causa.Eis para todas nós o grande desafio que é VIVER E CONSTRUIR NA ERA DIGITAL uma Educação prazerosa e enriquecedora e que a Escola seja um local onde possamos de fato escolarizar e este aluno sinta-se pertencente e responsável também por este aprendizado.
Helena, mimo...
Mais uma vez agradeço a confiança. Certamente, com profissionais da educação engajados como você, alcançaremos nosso objetivo maior que é EDUCAR COM QUALIDADE E COMPROMETIMENTO, o que será possível na medida em que nos enveredarmos (sem medo, mas com responsabilidade rsrs) pelos caminhos que - cotidiana e ininterruptamente - vem sendo abertos pelos NASCIDOS NA ERA DIGITAL!
Bjus
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