segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

RELATÓRIO SALAMANCA + 20 - TERCEIRO ENCONTRO

POR MARI MONTEIRO




PROJETO SALAMANCA + 20
RELATÓRIO SOBRE O TERCEIRO ENCONTRO – HTPC de 22/09/2014



Em continuidade aos trabalhos de formação acerca do Projeto Salamanca + 20, procedemos ao segundo encontro, cuja temática direciona a discussão para o ponto de vista de quem lida, direta ou indiretamente, com os portadores de deficiência. Trata-se das BARREIRAS ATITUDINAIS; ou seja, barreiras que criamos ou às quais “nos acostumamos” e que impedem e obstaculizam (e muito) as interelações sociais. Diante disso, torna-se necessário desenvolver; sobretudo, em nós, educadores, meios para REMOVER barreiras que, de um modo geral, dependem de uma mudança de postura interior.

Diante disso, além dos fragmentos de texto do MEC sugeridos na proposta nº 03 (anexos á terceira questão), considerou-se por bem sugerir alguns filmes para os educadores. Filmes estes que tratam justamente a superação de barreiras atitudinais. Assim, durante o encontro, foram exibidos os trailers e as sinopses dos seguintes filmes:

FILME 01: PRECIOSA: UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA

Título Original: Precious: Based on the Novel Push by Sapphire

Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique, Rodney Jackson, Paula Patton
Direção: Lee Daniels
Gênero: drama.

Ambientado no Harlem, em 1987, a história de Claireece "Preciosa" Jones, uma garota Afro-Americana de dezesseis anos de idade, que tem uma vida repleta de dificuldades. Abusada pela mãe, violentada por seu pai, ela cresce pobre, analfabeta, gorda, sem amor e geralmente passa despercebida por todos. Após muita luta, muita dor e impotência, Preciosa começa uma jornada que a levará ao mundo de luz, amor e autodeterminação.

 

FILME 02: O SUBSTITUTO ( Indiferença)

Henry Barthes é um professor brilhante com um verdadeiro talento para se conectar com seus alunos. Em outro mundo, ele seria um herói para sua comunidade. Mas, assombrado por um passado conturbado, ele escolhe ser professor substituto - nunca na mesma escola por mais que algumas semanas, nunca permanecendo tempo suficiente para formar qualquer relação com os alunos ou colegas. Uma profissão perfeita para alguém que busca se esconder ao ar livre. Quando uma nova missão o coloca numa decante escola pública, o isolado mundo de Henry é exposto por três mulheres que mudam a sua visão sobre a vida: uma estudante, uma professora e uma adolescente fugitiva. Durante somente três semanas o professor substituto (Henry Barthes) deverá enfrentar a doença (Alzheimer) e morte do avô, com quem viveu uma terrível história familiar; a vida de uma adolescente prostituta e maltratada, que acabará hospedando na sua casa; alunos violentos e sem perspectiva de futuro, outros com uma carga incrível de sofrimento e carentes do mais básico; professores/as que ainda tentam fazer o seu melhor com alunos/as que não estão para nada interessados em estudar, enquanto outros, carregando histórias pessoais trágicas, afundam na angústia e na depressão.


Após assistirmos aos trailers e conversarmos sobre as sinopses, o grupo se mostrou bastante interessado em assistir aos filmes na íntegra.

Em seguida, lemos e discutimos um texto que, oportunamente, nos propõe reflexões que conduzem a MUDANÇAS POSTURAIS INTERIORES essenciais para o rompimento das barreiras atitudinais que diminuem as possibilidades de êxito nas relações interpessoais. Segue o texto lido:

Gosto demais do que um dia escreveu o britânico Beda, o Venerável, lá no século VIII: ‘Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe; não praticar o que se ensina; não perguntar o que se ignora’. Por isso, uma carreira a ser “turbinada” exige a capacidade de “ensinar o que se sabe”, isto é, ter permeabilidade e ser reconhecido como alguém que reparte competências, de modo a fortalecer a equipe e demonstrar ambição (querer mais) em vez de ganância (querer só para si, a qualquer custo).
 É necessário também “praticar o que se ensina”, de forma a deixar clara a coerência de postura, o equilíbrio entre o dito e o feito, e a disposição para assumir com segurança aquilo que adota como correto.Por fim, o mais importante, “perguntar o que se ignora”, pois corre perigo aquele ou aquela que não demonstrar que está sempre em estado de atenção (em vez de estado de tensão) para ampliar capacidades e assumir a humildade (sem subserviência) de compreender e viver aquilo que Sócrates, na Grécia clássica, nos advertiu: ‘só sei que nada sei’, ou seja, só sei que nada sei por inteiro, só sei que nada sei que só eu saiba, só sei que nada sei que não possa ainda vir, a saber. Afinal, os projetos e metas em qualquer organização são apenas um horizonte que funciona especialmente para sinalizar quais são as possibilidades e limites de progressão; no entanto, horizontes não são obstáculos e sim fronteiras. Performance e “fazer” carreira exige atitude e iniciativa e, por isso, é um “fazer” em vez de ser um “receber”. Construir o equilíbrio das intenções com as condições é prioritário, sempre lembrando que o equilíbrio precisa ser em movimento (como na
bicicleta), sem conformar-se com o sedutor e falso equilíbrio que se imagina atingir ao se ficar imóvel. Em 2007, a Brasilprev pediu-me uma pequena reflexão sobre equilíbrio na vida pessoal e profissional; eu o chamei de “Ô balancê,
 balancê…”. e agora aqui o retomo. Balancê? Por incrível que pareça esse termo francês significa, na dança, ficar apenas alternando um pé com o outro, mexendo o corpo para lá e para cá, mas, sem sair do lugar. Quando, em 1936, Braguinha e Alberto Ribeiro compuseram essa marchinha de carnaval, não poderiam supor que mais de 70 anos depois alguns de nós usaríamos a última estrofe como uma lamentação estagnante do desequilíbrio entre vida profissional e vida pessoal: “Eu levo a vida pensando / Pensando só em você / E o tempo passa e eu vou me acabando / No balancê, balancê”. “Acho que estou precisando colocar as coisas na balança e ver como consigo lidar melhor com a minha vida no trabalho e a minha vida particular.” Tem ouvido muito isso? Tem pensado muito nisso? Ainda bem; é sinal de sanidade. Qualquer perturbação que abale a integridade e autenticidade do que se vive é perniciosa. Todas as vezes nas quais se tem a sensação de se ser “dois”, isto é, de existir de forma dividida, desponta o perigo de se ter de escolher um entre ambos e relegar o outro. A questão vital não é dividir-se, mas, isso sim, repartir-se. Pode parecer óbvio: quando se divide, há uma diminuição; quando se reparte, há uma multiplicação. Em outras palavras: se me divido entre duas atividades, vem sofrimento; se me reparto, vem equilíbrio. Não por acaso, a palavra “equilíbrio” está ligada à ideia de pesar, avaliar, aferir e, portanto, colocar na balança. A expressão latina “aequilibrium” tem a sua origem em equ (igual) e libra (balança). Balancear as dimensões vitais favorece uma mente sadia; afinal, a vida profissional é parte da vida pessoal, e não toda ela.  Não deve pesar mais, nem menos. Terá a gravidade (em múltiplos sentidos) que for obtida pelo honesto valor que a ela for atribuído.O que não dá é ficar só balançando sem sair do lugar; harmonia é construção planejada e persistente, em vez de pura espera. Para que harmonia, então? Como um dia desenvolvi no meu livro Qual é a Tua Obra? (Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética) publicado pela editora Vozes: Cuidado, a vida é muito curta para ser pequena. É preciso engrandecê-la. E, para isso, é preciso tomar
 cuidado com duas coisas: a primeira é que tem muita gente que cuida demais do urgente e deixa de lado o importante. Cuida da carreira, do dinheiro, do patrimônio, mas deixa o importante de lado. Depois não dá tempo. A segunda grande questão é gente que se preocupa muito com o fundamental e deixa o essencial de lado. O essencial é tudo aquilo que não pode não ser: amizade, fraternidade, solidariedade, sexualidade, religiosidade, lealdade, integridade, liberdade, felicidade. Isso é essencial. Fundamental é tudo aquilo que te ajuda a chegar ao essencial. Fundamental é a tua ferramenta, como uma escada. Uma escada é algo que me ajuda a chegar a algum lugar. Ninguém tem uma escada para ficar nela. Dinheiro não é essencial. Dinheiro é fundamental. Sem ele, você tem problema, mas ele, em si, não resolve. Emprego é fundamental, carreira é fundamental. O essencial é o que não pode não ser. Essencial é aquilo que faz com que a vida não se apequene. Que faz com que a gente seja capaz de transbordar. Repartir vida. Repartir o essencial, a amizade, a amorosidade, a fraternidade, a lealdade. Repartir a capacidade de ter esperança e, para isso, ter coragem. Coragem não é a ausência de medo. Coragem é a capacidade de enfrentar o medo. O medo, assim como a dor, é um mecanismo de proteção que a natureza coloca para nós. Se você e eu não tivermos medo nem dor, ficamos muito vulneráveis. Porque a dor é um alerta e a dor nos prepara. É preciso coragem para que a nossa obra não se apequene. E, para isso, precisamos ter esperança. E, como dizia o grande Paulo Freire, “tem de ser esperança do verbo esperançar”. Tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. “Ah, eu espero que dê certo, espero que resolva, espero que funcione.” Isso não é esperança. Esperançar é ir atrás, é se juntar, é não desistir. Esperançar é achar, de fato, que a vida é muito curta para ser pequena. E precisamos pensar se estamos nos dedicando ao importante em vez de ao urgente. Tem gente que diz: “Ah, mas eu não tenho tempo”. Atenção: tempo é uma questão de prioridade, de escolha. Quando eu digo que não tenho tempo para isso, estou dizendo que isso não é importante para mim. Cuidado, você já viu infartado que não tem tempo? Se ele sobreviver, ele arruma um tempo. O médico dizia “você não pode fazer isso, tem de andar todos os dias”. Se ele enfartar e sobreviver, no outro dia você vai vê-lo, às 6 horas da manhã, andando. Se ele tinha tempo, que ele teve de arrumar agora, por que não fez isso antes? Você tem tempo? Se não tem, crie. Talvez precisemos rever as nossas prioridades. Será que estamos cuidando do urgente e deixando o importante de lado? Será que não estamos atrás do fundamental, em vez de ir a busca do essencial?”.
Fonte: Portal HSM – Mario Sergio Cortella As discussões ocorridas ao longo do texto (e após o texto) deram conta de que, de fato, agimos com muito ímpeto, com muita pressa e de modo a NÃO PERCEBER o que ocorre à nossa volta e com quem nos rodeia. Ou seja, tudo contribui para que nos tornemos cada vez mais indiferentes. Daí a proposta contida no texto (e a necessidade) de elaborarmos listas (cada um a seu modo) sobre o que consideramos IMPORTANTE e URGENTE e sobre o que consideramos FUNDAMENTAL e ESSENCIAL.
 Após estas etapas de sensibilização, procedemos à exibição de slides e de conceitos inerentes às barreiras atitudinais em relação à pessoa com deficiência. Todos estes recursos possibilitaram aos grupos elementos reflexivos deficientes para, coletivamente, elaborar propostas de ação por parte da comunidade a fim de ajudar na remoção de barreiras que impedem a efetiva implementação da educação inclusiva. Ainda no sentido de favorecer o estudo, a análise e a reflexão dos grupos, os mesmos receberam o texto-base, contemplando a questão a ser desenvolvida:   


ESTRUTURA DE AÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

“(...) 6. A tendência em política social durante as duas últimas décadas tem sido a de promover integração e participação e de combater a exclusão. Inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao desfrutamento e exercício dos direitos humanos. Dentro do campo da educação, isto se reflete no desenvolvimento de estratégias que procuram promover a genuína equalização de oportunidades. Experiências em vários países demonstram que a integração de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais é melhor alcançada dentro de escolas inclusivas, que servem a todas as crianças dentro da comunidade. É dentro deste contexto que aqueles com necessidades educacionais especiais podem atingir o máximo progresso educacional e integração social. Ao mesmo tempo em que escolas inclusivas proveem um ambiente favorável à aquisição de igualdade de oportunidades e participação total, o sucesso delas requer um esforço claro, não somente por parte dos professores e os profissionais na escola, mas também por parte dos colegas, pais, famílias e voluntários. A reforma das instituições sociais não constitui somente um tarefa técnica, ela depende, acima de tudo, de convicções, compromisso e disposição dos indivíduos que compõem a sociedade.

(...) 40. Um problema recorrente em sistemas educacionais, mesmo naqueles que proveem excelentes serviços para estudantes portadores de deficiências refere-se à falta de modelos para tais estudantes. Alunos de educação especial requerem oportunidades de interagir com adultos portadores de deficiências que tenham obtido sucesso de forma que eles possam ter um padrão para seus próprios estilos de vida e aspirações com base em expectativas realistas. Além disso, alunos portadores de deficiências deveriam ser treinados e providos de exemplos de atribuição de poderes e liderança à deficiência de forma que eles possam auxiliar no modelamento de políticas que irão afetá-los futuramente. Sistemas educacionais deveriam, portanto, basear o recrutamento de professores e outros educadores que podem e deveriam buscar, para a educação de crianças especiais, o envolvimento de indivíduos portadores de deficiências que sejam bem sucedidos e que provenham da mesma região.

(...) 61. A descentralização e o planejamento local favorecem um maior envolvimento de comunidades na educação e treinamento de pessoas com
necessidades educacionais especiais. Administradores locais deveriam encorajar a participação da comunidade através da garantia de apoio às associações representativas e convidando-as a tomarem parte no processo de tomada de decisões. Com este objetivo em vista, mobilizando e monitorando mecanismos formados pela administração civil local, pelas autoridades de desenvolvimento educacional e de saúde, líderes comunitários e organizações voluntárias deveriam estar estabelecidos em áreas geográficas suficientemente pequenas para assegurar uma participação comunitária significativa.

62. O envolvimento comunitário deveria ser buscado no sentido de suplementar as atividades na escola, de prover auxílio na concretização de deveres de casa e de compensar a falta de apoio familiar. Neste sentido, o papel das associações de bairro deveria ser mencionado no sentido de que tais forneçam espaços disponíveis, como também o papel das associações de famílias, de clubes e movimentos de jovens, e o papel potencial das pessoas idosas e outros voluntários incluindo pessoas portadoras de deficiências em programas tanto dentro como fora da escola.

63. Sempre que ação de reabilitação comunitária seja provida por iniciativa externa, cabe à comunidade decidir se o programa se tornará parte das atividades de desenvolvimento da comunidade. Aos vários parceiros na comunidade, incluindo organizações de pessoas portadoras de deficiência e outras organizações não governamentais deveria ser dada a devida autonomia para se tornarem responsáveis pelo programa. Sempre que apropriado, agências governamentais em níveis nacional e local também deveriam prestar apoio.

64. Uma vez que organizações voluntárias e não governamentais possuem maior liberdade para agir e podem responder mais prontamente às necessidades expressas, elas deveriam ser apoiadas no desenvolvimento de novas ideias e no trabalho pioneiro de inovação de métodos de entrega de serviços. Tais organizações podem desempenhar o papel fundamental de inovadores e catalisadores e expandir a variedade de programas disponíveis à comunidade.

65. Organizações de pessoas portadoras de deficiências - ou seja, aquelas que possuam influência decisiva deveriam ser convidadas a tomar parte ativa na identificação de necessidades, expressando sua opinião a respeito de

prioridades, administrando serviços, avaliando desempenho e defendendo mudanças.

66. Políticos em todos os níveis, incluindo o nível da escola, deveriam regularmente reafirmar seu compromisso para com a inclusão e promover atitudes positivas entre as crianças, professores e público em geral, no que diz respeito aos que possuem necessidades educacionais especiais.

 67. A mídia possui um papel fundamental na promoção de atitudes positivas frente a integração de pessoas portadoras de deficiência na sociedade. Superando preconceitos e má informação, e difundindo um maior otimismo e imaginação sobre as capacidades das pessoas portadoras de deficiência. A mídia também pode promover atitudes positivas em empregadores com relação ao emprego de pessoas portadoras de deficiência. A mídia deveria acostumar-se a informar o público a respeito de novas abordagens em educação, particularmente no que diz respeito à provisão em educação especial nas escolas regulares, através da popularização de exemplos de boa prática e experiências bem-sucedidas.



► A partir das conversas e das reflexões oportunizadas neste 3º encontro e da leitura do texto acima, elabore uma proposta de ação robusta de mobilização da comunidade, EM GERAL, capaz de ajudar na DIMINUIÇÃO DAS BARREIRAS ATITUDINAIS e que favoreça a prática da educação inclusiva, dentro e fora da escola:

Os grupos tiveram, no mínimo, dois dias para entregar as propostas por escrito. Dentre as quais, destacam-se, em primeiro lugar, as considerações realizadas pelos professores da EJA (educação de Jovens e Adultos). A partir da leitura do Projeto Político Pedagógico da Escola, o grupo elaborou uma relação com a legislação vigente (apoiada pela Declaração de Salamanca) e elaborou uma sugestão, uma proposta de ação na escola para colocar em pauta a questão da Educação Inclusiva.




OBJETIVOS
DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
( ESCOLA)
OBJETIVOS
DE UMA PROPOSTA DE AÇÃO
NA ESCOLA
“A Proposta Pedagógica da E.E. Carlos Drummond de Andrade é voltada para conceitos humanistas (que baseia seu sistema sobre o homem, sua situação e seu destino no universo) e interacionistas (Influência recíproca: a interação da teoria e da prática) com princípios de igualdade, equidade, solidariedade, justiça, fraternidade. Propõe que toda a aprendizagem seja articulada com a construção do conhecimento onde a criança na fase de aquisição da escrita formula suas próprias hipóteses sobre o código linguístico testando-as e colocando-as à prova”.


Partindo dos princípios de uma gestão democrática, participativa e inclusiva, levando-se em conta que a diferença deve estar em  pauta e amparados na Lei - LDBEN nº. 9394/96 - artigo 59, que defende entre outros aspectos: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização, que sejam específicos para atender às múltiplas necessidades de todos os estudantes brasileiros, inclusive daqueles que compõem o público alvo da educação especial, é preciso chamar à responsabilização coletiva pelas ações da escola, ou seja, cada função exercendo seu papel: do gestor (diretor), do professor coordenador, professores e funcionários para que seja garantido o desenvolvimento da aprendizagem de todos os alunos.
(E.J.A.) A interdisciplinaridade também exige que o território de cada campo do conhecimento – suas particularidades e especialidades – sejam compreendidos e respeitados.  A ideia não é procurar um caminho para homogeneizar todas as ciências ou restringi-las a um enfoque. Pelo contrário. Para que haja a junção das partes, é fundamental que a objetividade de cada uma seja plenamente reconhecida e respeitada. Não é possível combater abordagem que restringe os conhecimentos a campos fechados e mundos particulares nem criar uma posição unificadora, sem que antes as diferenças sejam reconhecidas, compreendidas e, sobretudo, respeitadas.
Cabendo ao professor gerenciar as adaptações e transformar o currículo em conhecimento sem exceções, exercitando seu poder criativo com base no conhecimento que possui, é preciso reconhecer o aluno e suas potencialidades, limitações e diferenças. Daí a importância de se resgatar a ideia de participação efetiva dos estudantes nas decisões da escola procurando conhecê- los e ouvi-los sobre o pensam, o que esperam do ensino e como compreendem as relações educativas.


Metas a fim de implantar uma proposta de ação na escola:

1. Recolher resultados de avaliação sobre o atendimento da escola na comunidade escolar e das avaliações externas dos alunos;

2. Equipe gestora deve ouvir do grupo de professores e funcionários, as principais demandas que possam estar comprometendo a qualidade do trabalho, já que esse é papel fundamental de uma gestão para o funcionamento de uma escola democrática e participativa, pois viabiliza o compartilhamento de responsabilidades e compromissos coletivos em torno de objetivos comuns;

3. Revisão e/ou reelaboração das metas estabelecidas no Projeto Político Pedagógico, entendendo o papel dos gestores como o de oferecer condições favoráveis de trabalho aos profissionais da escola, conhecer os estudantes e dialogar com suas famílias, além de realizar articulações políticas com o sistema de ensino e com os serviços da comunidade para atender às necessidades de sua unidade escolar.

4. Assegurar que o papel do professor coordenador seja de fato de articulação pedagógica, sendo responsável em buscar recursos e condições para o pleno exercício da docência pelos professores, tornando-se parceiro dos docentes na elaboração e reflexão sobre a prática pedagógica. A Resolução SE n. 88/2007 (SE, 2007) aponta que o professor coordenador deve atuar como gestor para implementação de uma política de melhoria da qualidade de ensino e define as suas atribuições, que vão desde o acompanhamento do ensino e da aprendizagem, até a divulgação de práticas inovadoras.

5. Traçar plano de estudo e formação continuada com os professores, chamando-os a pensar como ensinar de forma diferenciada na perspectiva inclusiva, repensando suas práticas pedagógicas, inovando, ousando e experimentando novos caminhos. Lendo o texto referência, os autores Salatino, Leone e Sapede (2012) sugerem:
·         a manutenção de expectativas positivas sobre a aprendizagem de seus alunos, mesmo que por caminhos diferentes;
·         incentivar apoio entre pares e colaboração entre eles;
·         estar atento à participação de todos na dinâmica da aula;
·         criar situações de aprendizagem vivenciada, utilizando variedades de materiais e recursos, entre outras;
·         envolver os pais.
Bibliografia:
SALATINO, L. T.; LEONE, M. G.; SAPEDE, A. R. As atribuições da equipe gestora, do professor da classe comum e do professor especialista no processo de construção de uma escola inclusiva, tendo como foco a avaliação do estudante com deficiência intelectual. In: SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem na área da Deficiência Intelectual - Ciclo 2 do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos. Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2012.


Além da contribuição do Grupo de Professores da EJA, acima descrita, cabe registrar outro aspecto muito interessante que está contido no RELATO PROFESSORA GEORGIA ELAINE ARRUDA CRUZ, que expressa um retrato da situação educacional como um todo, apontando para suas mazelas e levantando questionamentos que carecem de respostas.  Segue o referido relato na íntegra:

“Estamos estudando e ‘opinando’ sobre um projeto que ‘Manca’ na sua execução.
Degringolamos a educação revendo um projeto sociopolítico utópico que camufla as reais demandas das diversas deficiências educacionais que vivenciamos: uma ‘polisociexcclusão’; um neologismo que mescla a hipocrisia que vivemos uma política de exclusão social em vários âmbitos.

Infelizmente, a escola está agregando mais uma função exclusiva, exclui a sociedade de forma geral de opinar sobre inclusões, sobrecarregando a escola e dando-lhe a responsabilidade de boas ou más escolhas. Refletimos o tempo todo – existem leis que subdividem as pessoas em grupos: deficientes visuais, intelectuais, físicos, menores; idosos; negros. E nós com mobilidades normais, não idosos, nem negros onde somos inclusos? Na verdade, fazemos parte dos exclusos sociais.

Os menores são protegidos sempre, gerando indivíduos sem limite, desregrados, os quais não respeitam normas, comandos. Protegemos e temos nossa sociedade violentada por eles (assaltos, estupros e humilhações) e temos que respeitá-los, poupá-los, pois são ‘crianças’. E que Lei nos defende?


Constantemente vemos quadrilhas lideradas por idosos que devemos respeito, os quais são protegidos pela lei do idoso. Quando prejudicados, a qual lei recorrer?  A uma Constituição ultrapassada que só pensa em criar nomes, leis que taxem raça, idade, deficiências.

Os negros não podem ser xingados, tem cotas especiais que garantem vagas; concordo que não podemos ser diminuídos por raça, religião. E os brancos quando ofendidos por termos pejorativos, onde recorrem? Paremos de hipocrisias, de nomenclaturas para taxar deficiências, raça, crença; são ninharias políticas para angariar votos, pois quem inventa leis para ‘coitados’ faz nome e ganha votos. Precisamos de condições reais de emprego, saúde de qualidade, bons médicos, e não bolsas para encostar e disfarçar as necessidades.

A educação tem que ser igualitária, que não use termos que camuflem sua má qualidade, mantendo alunos na zona de conforto, como a progressão continuada, mais uma camuflagem.  O aluno tem que querer aprender, melhorar, estudar porque é preciso ser culto, porque é gratificante, necessário; não apenas ‘um salário bolsa família.

A finalização de instituições como a APAE veio apenas enxugar gastos, ocultar realidade; precisamos de escolas que atendam a necessidade de alunos de inclusão, com materiais e profissionais preparados para eles.
A escola precisa ser enxergada como tal, é hora de gritarmos, dar um basta neste acúmulo social, que vem nos sendo depositado, virando um lixo a céu aberto. Somos um espaço que está agonizando, sufocando, sem socorro, vítimas de famílias desestruturadas, de um sistema político falho; gerando um pedido de socorro. Que lei existe para proteger e salvar a escola.

O projeto Salamanca é ótimo, tem boas intenções, é bem elaborado e, teoricamente, ressalta e garantem os direitos dos cidadãos na sua totalidade, principalmente, daqueles que apresentam alguma deficiência.  É mais um projeto que existe apenas no papel. É curioso como o próprio título nos dá este indício; pois, “MANCA” na hora de ser posto em prática. Precisa-se vê-lo com olhos humildes e de aceitação de que há necessidades de ajustes, senão perder-se-ia a lógica de reestudo do mesmo. Portanto, é preciso ser revisto no tocante à sua operacionalidade; avaliando sua real prática na funcionalidade do cotidiano.” (sic)

O encontro realizado com os Professores do período da tarde resultou no seguinte consenso: “Os diretitos sociais tem por objetivos garantir às pessoas condições materiais consideradas imprescindíveis para uma vida plena e digna. Neste sentido, esses direitos buscam do Estado uma participação e uma intervenção para que sejam assegurados através de critérios de justiça o acesso de todos,


sendo assim, os direitos sociais diferente dos direitos de liberdade, se dá por meio da  atuação estatal, procurando, assim, diminuir as desigualdades sociais.

O artigo 6º da Constituição Federal de 1988 apresenta uma preocupação quanto aos direitos sociais do cidadão estabelecendo uma série de dispositivos que asseguram condições materiais básicas necessárias a uma vida digna; garantindo o direito a: saúde, trabalho, educação, lazer entre outros, há toda uma preocupação em determinar um bem estar social.

Sendo assim, garantidos esses direitos na Constituição Federal, é natural a busca pela efetivação desses direitos e a insatisfação de diversas classes sociais por não terem esses direitos efetivados, e a necessidade de reivindicações para o atendimento dos mesmos, assegurar esses direitos implica em assegurar o exercício da cidadania e, principalmente, assegurar o direito à liberdade.

O direito à educação é um direito fundamental a todos os brasileiros garantido no artigo 6º, um direito humano  fundamental que ocupa lugar nos direitos humanos; portanto, essencial, prioritário e  indispensável ao exercício da cidadania. A educação faz parte das condições para uma vida digna.

Em seu artigo 6º, a Constituição Federal/1988 eleva a educação como sendo um dos direitos sociais mais importantes, que tem por objetivo “ter” na sociedade indivíduos capazes de desenvolver-se, adquirir o mínimo necessário à sobrevivência.

O artigo 205 CF/88 vem afirmar que a educação é direito de todos  e dever do Estado e da família; o artigo 208 CF/88 garante que a educação é um dever do Estado, que deve oferecer educação gratuita, de boa qualidade e que atenda as necessidades de cada cidadão.

Inclusive, segundo José Afonso da Silva (1998), os direitos sociais constituem tutela pessoal, entendendo que eles disciplinam situações subjetivas pessoais ou grupais de caráter concreto. E ainda acrescenta: “os direitos econômicos constituirão pressupostos da existência dos direitos sociais, pois sem uma política econômica orientada para a intervenção e participação estatal na economia, não se comporão as premissas necessárias ao surgimento de um regime democrático de conteúdo tutelar dos fracos e mais numeroso”. Os direitos sociais disciplinando situações subjetivas podem ser considerados como direitos subjetivos, a partir disto, podemos entender que poderão ser exigidos. Resta compreender que os direitos fundamentais não são absolutos, necessitando sua harmonização, podem ser cumulados e são irrenunciáveis.

Nesse sentido, a educação será efetivada quando as escolas atenderem a todos sem excluir ninguém. Sabemos que o Estado se declara incapaz de cumprir o dever de oferecer educação a todos, pois chama à responsabilidade a família e a sociedade; sendo assim, é obrigação do estado, da família e da sociedade num todo, buscar efetivar esses direitos; pois, percebe-se que o Estado é o maior violador deste direito e; portanto, deve ser responsabilizado por esta omissão e quem deve buscar esta responsabilidade e fazê-los serem cumpridos são a sociedade e a família, cobrando políticas sociais e econômicas para que  estas atendam aos interesses sociais a  aplicabilidade dos direitos.

Neste sentido, a escola deve se redefinir e desejar/objetivar o que é urgente de todas as formas possíveis, urge que nos habilitemos a aprender e reaprender COM NOSSAS AÇÕES INDIVIDUAIS E GRUPAIS, que se tome uma posição a fim de que os direitos sociais sejam efetivados.

Indignar-se, contrapor ou criticar o sistema não garante a efetivação dos direitos sociais, é necessário que se tome medidas NÃO EXCLUDENTES para reagir às diferenças. Resignificar o papel dos pais, da escola e das comunidades, buscando formas solidárias e plurais de convivência, a escola precisa buscar mecanismos, cobrar do poder público a sua parcela de colaboração e de obrigação para atender aos alunos a fim de que estes tenham seus direitos efetivados.

Esperar dos sistemas educacionais, das organizações internacionais ou de bancos financiadores de projetos as soluções, sem que estes sejam participantes do processo escolar na base, é o mesmo que mantermo-nos no mesmo patamar. São necessárias soluções coletivas dos usuários e beneficiários, que estes pensem em soluções para o cotidiano, que elaborem seus projetos nas escolas em PARCERIA COM AS COMUNIDADES, que ampliem os debates de acesso, permanência e qualidade na  educação, que definam metas a curto, médio e longo prazo; que  elejam responsáveis para cada segmento e  que exijam de cada um suas responsabilidades, através de mandados de segurança, de injunção, de  denúncias  e de apurações para que todos tenham acesso à educação e possam, efetivamente, cada cidadão em suas necessidades físicas, sociais e ou mentais conseguirem gozar plenamente de todos os outros direitos  sociais, implicando n a garantia dos direitos fundamentais.

É necessário, para incluir, que a escola promova debates claros, abertos, AMPLIANDO O DISCURSO DA INCLUSÃO no que tange ao direito de  estar não apenas dentro da escola, mas no direito de estar no ambiente  escolar passando por assuntos críticos como: formação do professor; qualificação do professor; capacidade física e mental do professor; prédio escolar (acessibilidade) e, inclusive, estender esta discussão até a comunidade escolar. Ou seja, entendemos que todas estas AÇÕES, quando desencadeadas consciente e coletivamente, são capazes de  TRANSFORMAR ( e até transpor) as tantas barreiras atitudinais (já mencionadas) que prejudicam a educação inclusiva.

Enfim, mais uma vez, neste nosso TERCEIRO ENCONTRO para estudos e análises dos vinte anos do Projeto Salamanca, percebemos a predisposição da grande maioria do grupo, o que nos deixa muito satisfeitos e dispostos a dar continuidade à próxima etapa do Projeto Salamanca + 20.








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