terça-feira, 6 de maio de 2014

SISTEMA EDUCACIONAL CHINÊS: METODOLOGIA E EFICÁCIA

POR MARI MONTEIRO



Conforme prometido no último artigo postado (“Rumos da educação brasileira”), me empenhei em pesquisar a educação em países, cujos níveis apresentados na pesquisa estão muito acima do Brasil. Obviamente, que não caberia, neste momento, uma pesquisa acerca dos CINQUENTA E QUATRO PAÍSES que estão à nossa frente neste quesito. Logo, apresentarei as condições de ensino em alguns deles, cujos dados são mais acessíveis. Neste primeiro artigo de uma série de pesquisas, serão abordadas as questões educacionais em XANGAI: Primeiro colocado  em 2013.

Outro aspecto que deve ficar claro é que, independentemente da distância geográfica, cronológica e cultural dos países pesquisados, devem ser considerados que em alguns s aspectos podemos ser IGUAIS ou MELHORES. O que não pode acontecer é usar tais aspectos como “JUSTIFICATIVAS” para dizer coisas como: “Nunca teremos uma política educacional de ponta;” “Determinado país é muito mais ‘antigo’ que o nosso e; por isso, mais evoluído culturalmente”; “Não podemos contar com um nível tão alto de conscientização por parte dos pais e da sociedade.” Etc. Justamente por estas e outras razões. É que temos que TRANSFORMAR O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO.

"Ter peninha da pobre criança que não tem vontade de estudar é trocar o conforto emocional de hoje pelo futuro do filho"

É com esta frase que inicia o artigo da Revista Veja de 16/02/2011, sobre a Educação em Xangai. Tal colocação se refere à posição da FAMÍLIA das crianças chinesas em relação à educação dos filhos. . O teste do Pisa tornou-se a olimpíada da educação mundial. Enquanto estava a Finlândia em primeiro lugar, vá lá, quem teme um mini país que faz celulares? Mas decola um novo Sputnik: o campeão absoluto no último Pisa é a cidade de Xangai! Enquanto isso, os americanos amargam posições entre a 15ª e a 31ª.


Ainda sobre a questão familiar, o artigo escrito por Claudio de Moura Castro menciona que não há, entre os pais orientais uma preocupação com o estresse dos filhos. Enquanto 70% das mães ocidentais temem as pressões sobre os filhos, 0% das chinesas se preocupa com isso. Se os filhos não se saem bem, é vergonha para os pais. Para evitarem a desonra, gastam dez vezes mais tempo ajudando os filhos nos deveres - em comparação com as mães ocidentais. 


Castro (2011) continua e ilustra com um exemplo muito pertinente. Para os orientais, nada é divertido ou agradável, até que seja totalmente dominado. Portanto, não se pergunta à criança se quer estudar, praticar ou se gosta do que está fazendo. É crença deles, gosto se adquire na prática obsessiva e do sucesso que vem dela. Se malandrava ou tirava notas ruins, Chua era chamada pela mãe de "lixo". A vergonha foi um santo remédio e não deixou cicatrizes na personalidade. Se a nota foi menos que A, só pode ser por vadiagem, pois se toma como certo que o filho pode obter os resultados esperados. Daí as inevitáveis explosões de fúria paternal, sem as preocupações ocidentais de traumatizar as crianças.


Especificamente sobre o MODELO EDUCACIONAL CHINÊS, Gustavo loschpe  afirma após uma viagem a China, justamente para estudar os moldes educacionais, que a educação de um país é o reflexo de sua cultura, sua história e suas aspirações. Não é “exportável”, ainda mais para um país com diferenças culturais tão grandes como o Brasil. Mas, se não é possível copiar o modelo todo, HÁ SIM MUITAS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE PODERIAM SER IMPLEMENTADAS AQUI, depois de um período de teste em algumas cidades ou estados.


Sobre a questão salarial na China, é interessante saber que a remuneração dos professores é apenas mais um exemplo de outra macropolítica fundamental, a meritocracia. Todos na educação chinesa são cobrados e valorizados por seus resultados. Os alunos precisam ir bem no jun kao para ingressar em uma boa high school, depois precisam ir bem no gao kao para entrar em uma boa universidade. Precisam de boas notas e bom comportamento para ocupar as posições de liderança em sua turma. Os professores precisam esforçar-se, dar boas aulas e obter bom rendimento dos alunos para receber bonificações e aumentos. Os melhores professores viram diretores. Os bons diretores das escolas medianas são transferidos para escolas melhores, em seguida para as escolas-chave. Depois para a administração municipal, então para a da província, até chegarem ao ministério. Cada pessoa é valorizada de acordo com o que agrega ao sistema. (In. http://www.revistadigital.com.br/2012/03/o-que-podemos-copiar-da-educacao-chinesa - acesso em 06/05/2014)

Outro aspecto muito DIFERENTE da nossa visão de qualidade educacional diz respeito ao número de alunos por sala. A China se deu conta de que precisava de bons professores, e em grande quantidade, para dar o seu salto. Mas então viu suas carências: não tinha muitos bons professores nem os mestres capazes de formá-los. Como resolver? Em primeiro lugar, aumentando o número de alunos em sala de aula, para mais de quarenta nas áreas desenvolvidas e para mais de cinquenta no oeste rural. Em décadas passadas, esses números eram ainda maiores. Hoje, a pesquisa acadêmica em educação mostra que a quantidade de alunos em sala de aula não está relacionada com a qualidade do ensino, mas, quando a China montou suas escolas, essa literatura ainda não existia. OS CHINESES ENTENDERAM QUE É MELHOR TER QUARENTA ALUNOS EM CONTATO COM UM BOM PROFESSOR DO QUE VINTE, EM DUAS SALAS, UMA COM UM PROFESSOR BOM E A OUTRA COM UM PROFESSOR RUIM.



A colocação acima faz muito sentido na prática. Aqui mesmo na E. E. Carlos Drummond de Andrade, quando fizemos OFICINAS DE LÍNGUA PORTUGUESA, cheguei a trabalhar com uma média de 44 alunos por sala. Porém, como estavam todos “no mesmo nível de aprendizagem”, não tinha a menor dificuldade em “fazer” com que produzissem com a qualidade desejada.


Esse é um dos aspectos da educação chinesa que MAIS ME AGRADOU:  a abertura ao exterior. Como a maioria dos países desenvolvidos que deram saltos, A CHINA NÃO SE CONSTRANGE EM COPIAR AQUILO QUE DEU CERTO EM OUTROS PAÍSES. Os governos fazem um esforço constante para expor seus funcionários e intelectuais a tudo o que acontece no mundo, para que eles possam selecionar o melhor e trazê-lo à China.


Além disso,  Gustavo loschpe  faz alusão à importância do TRABALHO COLETIVO. Segundo ele, o sistema está organizado em círculos concêntricos, que se “abraçam” e se polinizam constantemente. Os professores têm seus grupos de estudo, as escolas têm seus distritos, os distritos são ajudados pelas províncias, que interagem com o governo nacional. TODOS COMPETEM, MAS TODOS SE AJUDAM. E o fazem porque o cuidado com o aluno é constante, e extrapola a sala de aula. Professores costumam ligar para os pais quando o desempenho de um aluno começa a declinar. E todo ano todas as escolas chinesas recebem a visita de um médico e uma enfermeira que farão exame básico de saúde (incluindo de audição e visão) em seus alunos. Quando se realizou o mesmo exame na cidade de São Paulo, constatou-se que mais da metade dos alunos tinha problemas de visão, audição, fala sobrepeso e desnutrição que atrapalhavam seu desempenho educacional. Imagine quantos milhões de crianças no país todo não têm seu desempenho acadêmico dificultado por conviver com problemas simples de resolver, como de visão e audição.


Agora, PASMEM! Porque até Gustavo loschpe  se admirou. Quando todos os esforços fracassam e uma escola continua não indo bem, ela passa por um processo em que o governo faz uma licitação pública, pedindo às escolas de alto desempenho que elaborem um plano para melhorar o desempenho da escola ruim. O melhor plano é selecionado. A escola top então assina um contrato com a escola ruim, no qual basicamente assume a responsabilidade por sua administração por um período de dois anos. Durante esse tempo, um alto funcionário da escola boa – normalmente o vice-diretor – se desloca para a escola ruim. na companhia de sete ou oito de seus melhores professores, e eles ficam lá pelo menos dois dias por semana, em tempo integral. O governo distrital dá RECURSOS ADICIONAIS  à escola boa para que ela possa contratar profissionais que supram a carência causada por aqueles que saíram. Se a escola ruim melhorar depois desses dois anos. a escola boa recebe um prêmio em dinheiro, que pode ser gasto em melhorias na escola. O autor mor da ideia foi Zhang Minxuan, um dos grandes pensadores da educação chinesa.

“Aí estão o pragmatismo, a meritocracia, o coletivismo, o gradualismo e a abertura ao exterior em ação. Aí está o melhor sistema educacional do mundo.” (Gustavo loschpe  - In. Op. Cit.).



 Desculpem-me o radicalismo: mas após tantas pesquisas, entendo que não se trata de, pacientemente, entender que a educação é um processo. ISSO NÓS JÁ SABEMOS FAZ TEMPO! A meu ver. Trata-se de virar o processo DO AVESSO! Trata-se de revirar a questão da  cultura das aparências pelo avesso. Trata-se de NOS VIRARMOS DO AVESSO: Quem sabe, desprender tudo e reaprender tudo, com outros olhares para a EDUCAÇÃO e para as PESSOAS a serem educadas? E, só para constar, não me deparei ao menos neste breve e humilde estudo, com nenhum tipo de CLASSIFICAÇÃO DA APRENDIZAGEM (se é que posso chamar assim): pré-silábico; silábico sem valor; silábico com valor... Níveis 1,2 ou 3... Ou coisa que o valha.  Assim, por que não nos ABRIRMOS PARA O MUNDO e, num atitude de COMPLETA HUMILDADE, procurar o que dá certo em outros cantos e COPIAR?


Aguarde novos estudos sobre outros países. Vale a pena conferir... ou melhor, comparar!




quarta-feira, 30 de abril de 2014

RUMOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

POR MARI MONTEIRO (Colaboração Professor Flavio C. Novo)




Os últimos resultados sobre a educação brasileira, divulgados em dezembro de 2013,  são alarmantes para não dizer “FRUSTRANTES”.  Neste artigo serão apresentados alguns dados recentes que dão conta do quanto a situação do Brasil é delicada no que se refere a uma educação de qualidade. O primeiro dado a ser analisado é sobre o domínio da LEITURA e das CIÊNCIAS. De acordo com a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), as economias asiáticas dominam o topo de desempenho dos estudantes. Hong Kong aparece em 2° lugar em ciências e leitura e na 3ª posição no rol de matemática. Já Cingapura ficou com a 2ª colocação em matemática e com a 3ª posição em leitura e ciências.

Os estudantes brasileiros tiveram desempenho pior que o de 2009 em leitura. Com dois pontos a menos (410), o Brasil ficou com a 55ª posição do ranking de leitura, era 53ª na avaliação anterior. Quase 90 pontos abaixo da média da OCDE (496), o Brasil tem o desempenho pior que o de países como Chile, Uruguai, Romênia e Tailândia.

Em ciências, o Brasil caiu do 53° posto para o 59° lugar, apesar de ter mantido a mesma pontuação (405). A média dos países de OCDE nessa disciplina foi de 501 pontos. Matemática foi a única disciplina em que os brasileiros apresentaram avanço no desempenho, ainda que pequeno. O Brasil saiu de 386 pontos, em 2009, e foi a 391 pontos --a média da OCDE é de 494 pontos. A melhora não foi suficiente para que o país avançasse no ranking e o Brasil caiu para a 58ª posição em matemática.  

Segundo Ocimar Munhoz Alavarse, especialista em educação pela Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), o país ainda tem muitos alunos com baixo desempenho nas áreas avaliadas. "Quando a gente olha o Brasil nos resultados desse Pisa, não só a média geral é baixa como tem muita gente concentrada abaixo do nível adequado. Esses alunos que saem do ensino fundamental e são avaliados pela prova acabam tendo o desempenho que se espera de um aluno do 5º ou 6º ano".

O fato de saber que o índice de PROFICIÊNCIA NA LEITURA, no Brasil, abaixou ao invés de ser elevado é extremamente grave. Isso equivale afirmar que o desempenho dos alunos PIOROU. Além disso, é preciso considerar que, ema vez não sabendo proceder à escrita e à leitura de qualidade, as demais áreas do aprendizado ficam, por tabela, comprometidas.

Contudo, a questão que se coloca é a necessidade de ir além do simples conhecimento dos resultados obtidos. É URGENTE que sentemos com nossos pares para travar diálogos educacionais, como maior nível de maturidade possível, a fim de buscar “SAÍDAS”; alternativas; PLANOS B... Enfim, ações que possam surtir efeitos no sentido de, no mínimo, APROXIMAR o Brasil do 1º colocado: XANGAI. Estamos distantes disso? MUITO! Estamos atrás de países com menor infraestrutura que o nosso o que é VERGONHOSO, politicamente falando.

Outra realidade, não é possível resolver esta questão de modo isolado: cada um na sua sala; cada um na sua escola... Mesmo porque o exame é abrangente. Isso basta para que tenhamos clareza de que trata de uma mazela SOCIAL, POLÍTICA e ECONÔMICA.  Ou seja, o educador é movido por ideais? Sim! Mas não apenas por isso. O professor precisa de MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO; MELHORES SALÁRIOS e de parcerias confiáveis com a FAMÍLIA e com os GOVERNANTES; sendo quês esta segunda é quase uma utopia.

 Enfim, está posto o quadro negro da educação brasileira. E não basta apenas contemplá-lo ou escrever sobre ele. É necessário FAZER ALGO. Talvez algo nunca tentado antes. Por exemplo, nos próximos dias vou me embrenhar numa pesquisa para saber de que forma os estudantes e os professores de Xangai estudam e aprendem. Serão “construtivistas”? Será que lá os alunos possuem inúmeras classificações para ATENUAR o analfabetismo como pré – silábico; silábico sem valor; com valor etc.? Questiono isso porque o Brasil, de um modo geral, costuma “IMITAR” programas sociais; econômicos e até comprar franquias de programas de TV estrangeiros... Então, por que NÃO IMPORTAR  E SE ORIENTAR POR UM MODELO EDUCACIONAL  MAIS EFICIENTE ( E MENOS CONDESCENDENTE! ) QUE O NOSSO?