POR MARI MONTEIRO
O roteiro inusitado lembra cena de filme ou novela em que a protagonista, uma senhora de 100 anos, com aparência de 70, chega em sua festa de aniversário na garupa de uma moto. Moto? Isso mesmo! O sorriso largo de Alzira de Souza Siqueira, ao chegar na festa organizada pelos moradores de Tapiratiba, tem um motivo bem especial: ela acaba de completar 100 anos de idade. O momento é histórico e, claro, merece muitas comemorações e homenagens.
Quem teve a ideia prá de lá de ousada de levar a professora na garupa da moto, foi o professor Márcio Eduardo Dias Porto Kitano, também Secretário de Cultura no município e admirador da professora centenária. "Estamos tão modernos que não vi problema em trazer a professora de moto. Fiz o convite e ela topou na hora. Só pedi para manter segredo, assim todos iriam se surpreender", conta.
Carinhosamente conhecida na cidade como 'Dama de Ferro', por ter sido enérgica com os seus alunos e pulso firme nas decisões, a prof. Alzira sempre esteve à frente de seu tempo. Reside na cidade há 73 anos e escolheu Tapiratiba por ser um lugar tranquilo, onde pôde seguir adiante com o seu maior sonho desde a infância: ser professora.
O segredo da longevidade, a profa. Alzira não revela, mas garante: "Não cuido da vida alheia. Cuido das vidas alheias que necessitam de ajuda",aconselha.
Das lembranças mais felizes de sua vida, ela cita o dia de sua formatura e o orgulho que seu pai sentiu ao vê-la se formando. Também fala dos momentos de maior dificuldade, como a tristeza ao perder os pais e o marido. Atualmente mora sozinha e adora leitura, música e culinária.
Alzira nasceu no município de Casa Branca, no interior de São Paulo, no dia 22 de julho de 1915. Tinha sete irmãos, seu pai era fazendeiro descendente de portugueses e sua mãe imigrante italiana. Casou-se e teve uma filha adotiva que lhe presenteou com quatro netos e seis bisnetos. É considerada pelos amigos e ex-alunos como uma pessoa espiritualista e bastante estudiosa.
"Deus já me deu de tudo. Agora, conto com os habitantes da cidade que escolhi para viver, me levarem lá para cima quando chegar a minha hora", diz a professora, durante a homenagem que recebeu dos moradores da cidade.
A professora, além de ter alfabetizado tantos alunos, também foi a primeira mulher na cidade a ter habilitação, datada de 1953. Época em que, no seu próprio carro, percorria as fazendas da região para encontrar crianças que não estavam estudando. Logo sua escola dobrou de tamanho. "Não fiz por interesse, fiz por necessidade. Só tinha quatro classes. Não tinha vaso sanitário, não havia água encanada, a água era retirada do poço. Era um sacrifício danado. Eu batalhei até me aposentar, quando já tinha até ginásio", lembra a professora. "Meu coração é assim aberto para o bem. O bem de todos, sem distinção", diz.
A realização de Alzira é endossada pelo o prof. Márcio Kitano, "Sua atuação foi bem importante para a cidade. No grupo escolar, por exemplo, enquanto diretora, implantou oitos classes. Ela também ampliou o quadro de funcionários, elaborava os exames semestrais de todas as séries e acompanhava diariamente o conteúdo aplicado em sala de aula pelos professores. Ela sempre foi participativa". Leia mais em: http://www.intranet.educacao.sp.gov.br
2 comentários:
Professora Alzira, espirito fraterno que deixara sua marca nos corações de quem ela convive e de quem conhece sua historia. Não precisou de governo e de ninguém que dissesse à ela ..vai e faça...simplesmente fez!! São histórias sobre esses seres humanos que nos ajudam a não perder a ESPERANÇA na humanidade.
Parabéns Profa. Alzira e muito mais pela sua citação: "Não cuido da vida alheia. Cuido das vidas alheias que necessitam de ajuda", uma grande e sábia filosofia de vida.
Conceição, querida...
Compartilho de sua admiração pela Professora Alzira!!!
Um ser humano iluminado a despeito de todo e qualquer percalço!
Bju
Grata pela contribuição
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