POR MARI MONTEIRO
PROJETO SALAMANCA + 20
RELATÓRIO SOBRE O PRIMEIRO ENCONTRO –
HTPC de 25/08/2014
A
E.E Carlos Drummond de Andrade possui um longo histórico de inclusão de pessoas
deficientes. Sobretudo, por este motivo, nós, da comunidade escolar, recebemos
muito bem a proposta SALAMANCA + 20. Entendemos que as propostas contidas no
Projeto oportunizarão, no mínimo, cinco encontros para FORMAÇÃO; ou seja,
encontros para os quais têm sido preparados materiais de estudos, slides e
discussões sobre o tema. Além disso, os professores receberão material de apoio
e indicações de bibliografia para estudos e para o embasamento necessários para
a elaboração COLETIVA dos relatórios sobre cada encontro.
No
primeiro encontro (realizado em 25/08/2014), tratamos de proceder a um estudo
em grupo sobre o Projeto e suas propostas de atividades (questões e
relatórios). Houve uma conversa entre os professores e membros da Equipe
Gestora baseada em slides e em vídeos sobre a temática; bem como, em textos a
fins. Tal conversa foi extremamente produtiva. Após a conversa, foi entregue
aos participantes o seguinte texto
juntamente com questão 1 para ser entregue no dia 29/08/2014:
► Definição do termo “PESSOA COM DEFICIÊNCIA”
Como chamar as pessoas com deficiência?
Uma
das discussões mais frequentes em grupos de inclusão social é como chamar as
pessoas que têm deficiência. O que seria mais adequado falar, em portador de
deficiência, pessoa portadora de deficiência ou portador de necessidades
especiais? O consultor
Romeu
Kazumi Sassaki afirma em seu artigo, Vida Independente: história, movimento,
liderança, conceito, filosofia e fundamentos, que não existe um único termo
correto, válido definitivamente em todos os tempos e espaços, pois cada época
tem suas peculiaridades.
“A
razão disto reside no fato de que a cada época são utilizados termos cujo
significado seja compatível com os valores vigentes em cada sociedade enquanto
esta evoluiu em seu relacionamento com as pessoas que possuem este ou aquele
tipo de deficiência”, explica Sassaki em seu valoroso artigo sobre inclusão.
Na Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, ficou decidido que o termo correto utilizado seria “pessoas com deficiência”. O movimento quer aprovar pela Assembleia Geral da ONU, a ser promulgada posteriormente por meio de lei nacional de todos os países-membros, incluindo o Brasil.
Na Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, ficou decidido que o termo correto utilizado seria “pessoas com deficiência”. O movimento quer aprovar pela Assembleia Geral da ONU, a ser promulgada posteriormente por meio de lei nacional de todos os países-membros, incluindo o Brasil.
Entre
os motivos que levaram os movimentos à expressão “pessoa com deficiência”,
estão os seguintes: não esconder ou camuflar a deficiência, mostra com
dignidade a realidade e valorizar as diferenças e necessidades decorrentes da
deficiência. Sassaki também chamou atenção para a necessidade de se combater
neologismos que tentam diluir as diferenças tais como “pessoas especiais” ou
“pessoas com eficiências diferentes”.
Outro
princípio utilizado para embasar a escolha é defender a igualdade entre as
pessoas com deficiência e as demais em termos de direitos e dignidade, o que
exige a equiparação de oportunidades atendendo às diferenças individuais. O
autor diz ainda que a tendência é de parar de usar a palavra “portadora”. “A
condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua
deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo
ou o adjetivo “portador” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que
faz parte da pessoa”, esclarece. Ele fala que quase a totalidade dos documentos
considera a adoção da expressão “pessoas com
deficiência”.
No
decorrer da história, as pessoas com deficiência já tiveram várias
denominações. No século 20, por exemplo, o termo usado era “inválido” que
significava indivíduo sem valor. Até 1960, eram chamados de “indivíduos com
capacidade residual”, o que segundo o autor Sassaki, foi um avanço da sociedade,
reconhecer que a pessoa tinha capacidade mesmo que ainda considerada reduzida.
Outra variação foi o uso do termo “os incapazes”.
Entre 1960 e 1980, começava-se a usar as expressões “os deficientes” e “os excepcionais” que focavam as deficiências e reforçavam o que as pessoas não conseguiam fazer como a maioria. Nos anos 80, por pressão da sociedade civil a Organização Mundial da Saúde lançou a terminologia “pessoas deficientes”. Iniciou-se uma conscientização e foi atribuído o valor “pessoas” aqueles que tinham deficiências, igualando-os em direitos a qualquer membro da sociedade.
Até os dias atuais, muitos nomes já foram utilizados como pessoas portadoras de deficiência, pessoas com necessidades especiais, pessoas especiais ou portadores de direitos especiais. Segundo Romeu Sassaki, todos considerados inadequados por representar valores agregados à pessoa. Vale lembrar que o uso dessas expressões estava inserido em um contexto social da época.
Entre 1960 e 1980, começava-se a usar as expressões “os deficientes” e “os excepcionais” que focavam as deficiências e reforçavam o que as pessoas não conseguiam fazer como a maioria. Nos anos 80, por pressão da sociedade civil a Organização Mundial da Saúde lançou a terminologia “pessoas deficientes”. Iniciou-se uma conscientização e foi atribuído o valor “pessoas” aqueles que tinham deficiências, igualando-os em direitos a qualquer membro da sociedade.
Até os dias atuais, muitos nomes já foram utilizados como pessoas portadoras de deficiência, pessoas com necessidades especiais, pessoas especiais ou portadores de direitos especiais. Segundo Romeu Sassaki, todos considerados inadequados por representar valores agregados à pessoa. Vale lembrar que o uso dessas expressões estava inserido em um contexto social da época.
Fonte: Comissão
de Acessibilidade e Comissão de Valorização da Pessoa com Deficiência Ano VI -
Número 70 - setembro – 2006
Ficou evidente, entre os
participantes que, embora tenha havido muitos avanços no que se refere à
inclusão da pessoa deficiente e aos direitos que a ela assistem; ainda existem muitos
aspectos que impedem que a efetiva inclusão ocorra.
Um destes aspectos, mencionados
pela professora Vera Lovato, diz respeito ao atendimento satisfatório em sala
tanto da pessoa deficiente que, ao ser matriculado na escola regular, teve seu
direito à educação assegurada; porém apenas este ato não garante a inclusão
efetiva. Segundo a professora, “esbarramos em questões peculiares para
atendermos as demandas específicas dos alunos com deficiência; mais
precisamente, nas escolas, tendo, por vezes, que dividir a atenção entre alunos
sem laudos e alunos diagnosticados e, principalmente, atender a ambos COM
QUALIDADE; sem prejuízo a qualquer um; situação esta, no mínimo, complicada se
pensarmos em: espaço; equipamentos; pessoal qualificado e materiais específicos
e necessários.”.
Outra característica mencionada
pelo grupo de estudos refere-se ao fato de que a estrutura física de nossa
escola (e, acreditamos, de tantas outras no Estado de São Paulo) não atende às
necessidades de acesso de boa parte doa alunos deficientes matriculados. No
caso específico da E.E. Carlos Drummond de Andrade, podemos mencionar os lances
de escada; a falta de uma sala de recursos e até a falta de uma quadra. Ainda sobre nossa escola, a professora Aida
Cordeiro menciona que “os prédios públicos, incluindo o prédio em
que trabalho, não são adaptados e acessíveis, fazendo com que pais, professores
e/ou cuidadores acabem por carregar no colo ou auxiliar no acesso nos acessos
fora da sala de aula.”
Como a primeira questão a ser
respondida refere-se às condições que têm sido oferecidas para que aconteça uma
inclusão DE FATO, o grupo de estudos mencionou, inclusive, a questão da
formação para lidar com pessoas deficientes. Muitos afirmam que, por mais boa
vontade e dedicação que educador possua, sem uma formação específica, fica
muito difícil exercer um trabalho satisfatório a fim de incluir
verdadeiramente. Diante disso, cabe mencionar a visão da Professora Michelle
Gonçalves de Carvalho. Segundo ela, “nas Unidades Escolares do Estado de São
Paulo, os movimentos sobre inclusão são frequentemente discutidos, para assim
adequarem condições físicas e humanas em prol da inclusão. Como se percebe, a
situação é delicada. Os profissionais da educação necessitam de informações e
de instruções práticas para atuar na sala e no ambiente escolar. As escolas
estaduais dispõem de alguns atendimentos individualizados extraclasses; ou
seja, a criança com deficiência tem todas as suas atividades escolares inclusas
em sala de aula, mas após, ou antes, do seu horário escolar, ela tem
atendimento especializado, focando nas suas dificuldades.”.
Outro aspecto abordado pelo
grupo diz respeito à importância da realização de estudos e de debates acerca
da pessoa deficiente juntos aos familiares. Pois, como foi colocado pelo
Professor Dejair Cosme Izidoro, “as famílias não devem esconder
ou camuflar a deficiência, devem mostrar com dignidade a realidade e valorizar
as diferenças e as necessidades individuais (...)”. Esta colocação nos
remete ao fato de que, em alguns casos, tanto a escola como os professores,
trabalham para o desenvolvimento e para a evolução gradativa da autonomia da
pessoa com deficiência e a família, por sua vez, age de forma contrária: não
aceita as condições do (a) seu (sua) filho (a) e, não raramente, superprotege
e, desta forma, mina todo o trabalho desenvolvido no âmbito escolar.
Especificamente
com relação aos estudos realizados com os educadores da EJA (Educação de Jovens
e Adultos), o grupo chegou às seguintes conclusões: “Quanto à acessibilidade
física na unidade em que atuo, encontram-se barreiras mesmo diante de algumas
adequações. A escola, por estar situada em terreno acidentado, têm muitas
escadas para os acessos da maioria das salas de aula, inclusive pátio, banheiros
e sala de leitura. Houve adaptações para o acesso à merenda e um (01) banheiro
para deficientes, além de rampas na entrada da escola. Mas o fato da maioria
das salas ficarem na parte superior do prédio e a escola não contar com
elevador e depender exclusivamente de escadas, impede um número maior de
atendimento de alunos. Sobre acessibilidade pedagógica, a escola tem uma preocupação
constante de buscar formas de diálogo entre professores e famílias dos alunos
com necessidades educacionais especiais. São realizadas formações articuladas
pela professora mediadora, com total apoio da equipe gestora; palestra com a
presença de Antonia Yamashita - mãe de uma criança especial, que divulga
através de encontros específicos e da internet seus trabalhos e experiências
com seu filho Lucas. Outro fator que contribui pedagogicamente para a acessibilidade
foi a chegada dos “cuidadores” na escola. Isto demonstra na prática, o cuidado
específico que tanto alunos quanto o trabalho educativo merecem ter.”
De um modo geral, reconhecemos
as mudanças históricas e sociais ocorridas nestes vinte anos de existência da
Declaração de Salamanca. Muito provavelmente, sem sua existência, estaríamos,
literalmente, parados no tempo, quando as pessoas com deficiência viviam em
total segregação social e, dependendo do local, também em situação de
segregação familiar até os seus últimos dias. Mas, reconhecemos também que
ainda há muito para ser feito; sobretudo, no âmbito da tão falada INCLUSÃO
ESCOLAR.
Salientamos que, em TODOS os períodos,
os grupos de estudos demonstraram grande interesse pela temática;
principalmente, no sentido de discutir com base na realidade em que estamos
inseridos e na necessidade de implementação de condições (físicas, estruturais
e humanas) para que – nos próximos vinte anos – a educação inclusiva avance de
modo a, de fato, fazer valer a inclusão. Pois, para o grupo, é evidente que,
apesar da existência da Declaração de Salamanca e das demais leis que tratam da
educação inclusiva, ainda nos encontramos distantes de uma forma de inclusão
concreta. Ou seja, temos consciência de que falta muito para tanto. Por outro
lado, todos sabem o que é necessário. No que se refere à vontade de APRENDER e
a FAZER ACONTECER, todo o grupo é favorável às ações já mencionadas; porém,
sabemos que, apenas isso, NÃO GARANTE uma inclusa verdadeira. É preciso, então,
que se CONSOLIDE uma parceria entre família; escola e uma equipe de
multiprofissionais; bem como a existência de ambientes favoráveis ao
desenvolvimento da pessoa deficiente em suas mais diversas necessidades. Somando
- se a isso, obviamente, a VONTADE POLÍTICA das autoridades.
Diante disso, não há como concluir este relatório sem agradecer a
participação efetiva de TODOS, tanto nos momentos de estudos (apreciação de
vídeos; leitura de textos e discussões), como na elaboração dos comentários
escritos. Todos estes componentes resultaram neste RELATÓRIO COLETIVO que –
graças à clareza das ideias colocadas pelos membros do grupo – nos permite
enxergar o atual “RETRATO” da inclusão no Estado e; principalmente, na nossa
Unidade Escolar.
Assim sendo, consideramos que
há muito para ser feito nos próximos vinte anos. O que envolve, além do empenho
e da predisposição, evidentes, entre os participantes do grupo de estudos da
E.E. Carlos Drummond e, certamente, das demais escolas do Estado de São Paulo,
a vontade política de fazer acontecer uma inclusão real. Ou seja, o que mais
necessitamos é que as TODAS as leis inspiradas ou pautadas na Declaração de
Salamanca, literalmente, tomem forma e sejam perceptíveis nas escolas, nas
famílias e na sociedade, de tal modo que a pessoa deficiente possa, tal como
previsto na Lei, ter seus direitos garantidos.
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